Ciúme e Dostoiévski
Em os Irmãos Karamázov, Dostoiévski fez a mais brilhante análise sobre o ciúme que eu já li.
“Otelo não poderia se conformar com a traição por nada neste mundo –deixar de perdoar não deixaria, mas se conformar , não, embora fosse de alma pacata e pura como a alma de uma criança. Não é o mesmo que acontece com o verdadeiro cimento: é difícil imaginar a que esse ou aquele ciumento pode acomodar-se e conformar-se e o que pode perdoar! Os ciumentos são os primeiros a perdoar, e isso todas as mulheres sabem. O ciumento pode e é capaz de perdoar depressa demais (claro, apos uma terrível cena inicial), por exemplo, uma traição já quase provada, os abraços e beijos já presenciados por ele mesmo, se, por exemplo, puder ao mesmo tempo asseverar-se, de alguma maneira, de que isso aconteceu “pela última vez” e que a partir desse momento seu rival desaparecerá, irá para o fim do mundo, ou ele mesmo o levará para algum lugar em que esse terrível rival não voltará a aparecer. É claro que a conciliação acontecerá apenas por uma hora, porque mesmo que o rival tenha realmente desaparecido, amanhã mesmo ele inventará outro, um novo, e voltará a ter ciúmes. Poder-se-ia pensar: que amor é esse que precisa ser tão vigiado, de que vale um amor que precisa ser tão intensamente vigiado? Pois é isso que nunca irá compreender o verdadeiro ciumento, não obstante, palavra, entre eles aparecem pessoas até de coração elevado. Também é digno de nota que, estando essas mesmas pessoas de corações elevados em algum cubículo, escutando atrás da porta e espionando, ainda que, com “seus corações elevados”, compreendam claramente toda a desonra em que caíram voluntariamente, mesmo assim nunca sentem remorso, ao menos enquanto se encontram nesse cubículo.”
in http://terraqueo2009.blogspot.com/2010/07/ciumes-e-dostoievski.html#comment-form
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